Memórias de um amigo
Memórias de um amigo
Passando por uma loja bem simples de comida de animais, ao parar olhei para uma gaiola vazia onde havia alguns gatos recém-nascidos para doação, e lá estava ele, um gatinho bem pequeno com os pelos cinza e branco, como aquele gato do desenho animado. Resolvi que iria cuidar dele.
Chegando em casa, ele ficou louco com tanto espaço, pulava pra lá, pulava pra cá, era uma festa só e chegando a noite ele queria dormir em nossa cama, que gato chato era aquele Tom. Nessa mesma época o cachorro na minha namorada estava muito doente, era o começo de uma batalha pela vida daquele Poodle bonzinho que até pegava a coleira quando queria passear.
Com essa doença, nosso cachorro ficou muito fraco, mal conseguia comer e na maioria das vezes se encontrava sujinho devido a sua bexiga que já não segurava sua urina. Foi então que percebemos que aquele gatinho pequeno e sapeca estava fazendo carinho no amigo canino e limpando suas sujeiras nos pelos brancos. Que amigo aquele cão ganhou, um gatinho que sempre estava ali do seu lado e não desgrudava nenhum segundo.
O tempo foi passando e depois de inúmeras lambidas e visitas ao veterinário aquele cachorro que todos haviam dito que não sobreviveria estava começando a melhorar, e o gatinho continuava ao seu lado mesmo assim, parecia que aquelas lambidas em forma de banho e o carinho estavam curando ele, ou melhor, dando força para que pudesse superar aquela doença terrível.
O cachorro melhorou, e o tempo passou, já grande cada vez mais bagunceiro ele tinha a péssima mania de mexer no lixo de casa, há como agente ficava pra morrer com isso, sempre a mesma historia, acordava de manhã e lá está, o lixo revirado de novo. O pior é que ele ainda te olhava com aquela cara de quem tinha aprontado.
Uma certa vez, comendo pão e assistindo anime no computador, percebemos uma patinha entre o teclado e o mouse pegando as migalhas de pão que caia ali. Aquilo foi hilário, que gato safado!
Mais de dois anos se passou e ele estava em sua faze adulta, sua vida se resumia na noitada na rua e dormida em casa durante o dia, havia virado um safado completo.
De uns dias pra cá, ele havia emagrecido um pouco, então joguei um pedaço de carne para ele, mas o gato rejeitou. Que coisa estranha pensei. Preciso leva-lo ao veterinário, isso mesmo, falta pouco para o pagamento cair e quando pegar no dinheiro levo ele ao veterinário, afinal não deve ser nada de mais.
Ontem a noite após chegar do trabalho percebi que suas fezes cheiravam muito mal, um cheiro insuportável, então analisei sua gengiva e percebia um branco fora do comum.
Peguei leite e o forcei a beber achando que fosse algum tipo de veneno ou algo parecido, chamei meu padastro e a minha mãe para ajudar e tentamos, naquela hora ele me olhava e eu dizia: Vamos cara! Melhora, você é forte e vai sair dessa, mas era tarde demais, ele havia morrido ali, nos meu braços, com a mão no seu coração senti suas batidas ficando bem fracas e seus olhos já não eram o mesmo de antes.
Demorou mais de meia hora ali olhando pra ele pra cair a ficha de que ele não ia mais voltar, ele não ia mais revirar o lixo, não ia mais dormir do meu lado, nem se esfregar em minha pernas pedindo carinho.
Coloquei ele em um saco preto bem devagar com o maximo de cuidado que podia, mas não queria fechar aquele saco. Estava na esperança dele acordar, mas não acordou, cavei um buraco e o enterrei, fumei um cigarro na sua frente e a única coisa que conseguir dizer foi:
Obrigado amigo, me perdoa, eu te amo!
A minha negligência e falta de responsabilidade o mataram e tenho total consciência disso.
“Me desculpa amigo, não consegui te salvar” 27/08/2013 – hoje estou sozinho...